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Mar 25, 2024

A corrupção na Guatemala ganhou destaque internacional após a interferência do governo nas eleições

A Procuradoria-Geral da Guatemala invadiu a sede da autoridade eleitoral do país na quinta-feira. Aconteceu horas depois de ter certificado os resultados das eleições de 25 de junho. A operação parecia estar ligada à tentativa dos promotores de impedir o candidato progressista Bernardo Arévalo de competir em um segundo turno…

CIDADE DA GUATEMALA — A interferência desajeitada do governo da Guatemala nas suas eleições presidenciais chamou a atenção global para a corrupção desenfreada que anteriormente tinha recebido apenas uma atenção internacional limitada.

O Presidente Alejandro Giammattei era profundamente impopular a nível nacional, mas, para além de reprovações ocasionais por parte dos Estados Unidos e da Europa, conseguiu consolidar o seu controlo do sistema judicial, subvertendo completamente uma campanha anticorrupção de longa data no país, com poucas consequências.

A eleição presidencial de 25 de Junho pode ter mudado tudo isso. Nos dias que antecederam a votação, parecia que haveria um segundo turno entre um pequeno número de candidatos de direita e de extrema direita, incluindo aliados de Giammattei.

Bernardo Arévalo, um candidato presidencial progressista do partido Movimento Sementes, e sua companheira de chapa Karin Herrera cumprimentam seus seguidores em 13 de julho, do lado de fora do gabinete do procurador-geral da Guatemala, na Cidade da Guatemala, depois que um juiz suspendeu o status legal do partido político Movimento Sementes.

Mas com um grande número de votos nulos, muitos em protesto e uma campanha que repercutiu especialmente entre os jovens guatemaltecos, o candidato progressista Bernardo Arévalo ficou em segundo lugar, garantindo a sua participação na segunda volta de 20 de Agosto.

De repente, parecia haver uma possibilidade real de escolha para os guatemaltecos que querem mudar o status quo. Isso surpreendeu os poderes constituídos, que reagiram rapidamente.

“Acho que o medo o obscureceu, cegou”, disse Katya Salazar, diretora executiva da Due Process Foundation, sobre Giammattei. Ela acrescentou que o apoio surpresa de Arévalo foi “uma demonstração da insatisfação” no país centro-americano.

“Acho que ele (Giammattei) pensou que seria como sempre”, disse ela.

No final de 12 de julho, um promotor federal anunciou que o partido de Arévalo, o Movimento Semente, havia sido suspenso por supostamente violar as leis eleitorais. Os promotores continuaram na manhã de quinta-feira invadindo os escritórios do Tribunal Supremo Eleitoral poucas horas depois de certificar os resultados eleitorais que colocaram Arévalo no segundo turno.

Manifestantes protestam em 13 de julho em frente ao gabinete do procurador-geral da Guatemala, na Cidade da Guatemala, após interferência do governo nas eleições presidenciais do país.

O promotor especial anticorrupção, Rafael Curruchiche, defendeu sua investigação como séria, objetiva e imparcial. Disse que o inquérito demorou um ano a ser concluído e foi uma coincidência que o tenha anunciado no mesmo dia em que o Tribunal Supremo Eleitoral certificou os resultados eleitorais.

“Essa ideia que eles têm de que este caso surge de questões políticas é completamente falsa”, disse Curruchiche. “Não nos envolvemos em questões políticas.”

O promotor disse que a invasão de seu gabinete ao Tribunal Supremo Eleitoral produziu informações valiosas, mas não entrou em detalhes. Ele disse que os próprios documentos do tribunal mostravam que estava ciente de que 12 assinaturas recolhidas pelo Movimento das Sementes quando este foi criado em 2018 eram de pessoas mortas, mas ainda assim permitiu que fossem registadas.

“Eles não assumiram sua responsabilidade como deveriam”, disse ele.

Na sexta-feira anterior, a Procuradoria-Geral da República afirmou em comunicado que estava cumprindo o seu dever de fazer cumprir as leis do país e não tentando interferir no segundo turno de votação ou impedir qualquer candidato de participar do segundo turno. Curruchiche disse que sua investigação continuaria.

As ações do governo desencadearam um alvoroço nacional e internacional. Além das declarações de preocupação dos Estados Unidos, da União Europeia e da Organização dos Estados Americanos, vieram críticas de outros governos latino-americanos, bem como da associação empresarial privada mais poderosa da Guatemala.

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